segunda-feira, 6 de julho de 2009

Caillion

Na aldeia de Risvorveri, do outro lado do mundo, comemorava-se o solistício de verão. O povo estava em festa mas também um pouco apreensivo. A noite de celebrações coincidia com a noite de lua cheia e dizia-se que quando assim era algo de extraordinário acontecia. No entanto, ninguém sabia exactamente o quê portanto também ninguém sabia o que esperar.
O dia passou sem que nada de peculiar se tivesse passado e assim prosseguiu a noite. Só no dia seguinte os habitantes notaram que na noite anterior uma criança tinha nascido, uma permatura, e logo nesse instante decretou-se que esta criança deveria ser o prodígio, a oferta dos Deuses tanto aguardada.

Caillion cresceu tomada de todos os cuidados e desde de cedo se conheceu o seu dom: a menina fazia crescer tudo em seu redor e até as pessoas se sentiam melhor apenas com a sua mera presença.
Vastos pastos abundavam, os frutos vingavam, todas as crias sobreviviam a até o número de habitantes da aldeia cresceu. Risvorveri tornou-se a mais rica e alegre aldeia da região, e Caillion o seu segredo mais bem guardado.

Os anos passaram e com eles a grandeza da aldeia. Cada vez mais pessoas de aldeias vizinhas chegavam dispostas a iniciar uma nova vida, pois tinham ouvido que os Deuses tinham decidido agraciar este local com toda a fortuna do mundo. Mas para os chefes destas aldeias era cada vez mais difícil convencer as suas gentes a ficar e decidiram que era necessário descobrir a que se devia tanta abundância.

Assim, foram enviados guerreiros com a missão de desvendar o segredo de Risvorveri e roubá-lo. Com o passar do tempo os habitantes da aldeia tinham acumulado tanta riqueza e felicidade que a admiração por Caillion era cada vez maior, pelo que o dom desta era também cada vez mais presenteado. Desta forma, não tardou para que os guerreiros espiões acreditassem que aquela seria uma poderosa feiticeira e a verdadeira fonte de abundância da aldeia.

Uma noite, os forasteiros conseguiram aproximar-se de Caillion e raptá-la. Levaram-na para longe da sua aldeia e depressa apresentaram a jovem aos seus chefes como o segredo que buscavam.
Os líderes das aldeias vizinhas ficaram muito agradados com os seus guerreiros e previam que agora também as suas aldeias veriam os celeiros cheios e os seus habitantes a regressar às suas casas.

No entanto, ao contrário do que seria de esperar, a presença da jovem feiticeira fazia definhar tudo à sua volta e rapidamente, de chefe para chefe, tentaram ver-se livres deste flagelo.

(...)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Melidsay!

O Sol ia alto, o calor intensificava-se naquela manhã de Verão e Fosforus dormia estendido na sua cama de relva fresca. Tinha andado desaparecido todo o dia anterior e apenas regressado acerca de uma hora atrás sem, no entanto, dar mostras de querer partilhar as suas últimas incursões.
Eu tinha as minhas suspeitas, mas sabia que esta não era altura para aborrecê-lo com complicados discursos sobre lealdade que invarialvelmente o levavam a retirar-se sem um olhar.

Fosforus tinha ganho uma posição priveligiada em Belthriven Manor desde que os acontecimentos de há 6 anos atrás o tinham colocado no meu caminho. Nessa altura era tão pequeno que cabia facilmente numa das minhas luvas de couro, usadas só no trabalho exterior. No entanto, nos últimos anos Fosforus tinha crescido mais que o esperado para a sua espécie e a sua confiança tinha ultrapassado o seu tamanho. Eu sabia que o nosso elo era intocável, mas ainda assim custava-me saber que ele já não dependia de mim para sobreviver. A sua teimosia em querer guardar tudo para si era apenas uma das muitas demonstrações de independência que fazia questão de me lançar.

De repente, o Sol escondeu-se atrás de uma nuvem que eu podia jurar não estar ali há um minuto atrás. Institivamente olhei para Fosforus já liberto da sua languidez e agora totalmente desperto. O meu olhar era de inquirição mas a resposta dele foi apenas mudar para uma postura de ainda mais alerta.
- Não te vou poder ajudar se não me disseres o que se passa. - tentei eu incentivá-lo.

Algo vinha na nossa direcção, aproximando-se rapidamente através dos arbustos dispostos em semi-círculo nas nossas costas. Quem quer que viesse, ou o que viesse, não se abstinha de o fazer ruidosamente, o que queria dizer que fazia questão de ser notado. E isso em Belthriven Manor significava que não tinha qualquer receio do poder que ali se encerrava.
Levantei-me e virei-me para os arbustos minuciosamente esculpidos. Iria aguardar de frente o quer que fosse que estava prestes a aparecer.
Cada vez mais perto... até que uns olhos de um amarelo-dourado intenso sobressaíram do verde escuro da vegetação.

Melidsay!
Então as minhas suspeitas confirmavam-se! Melidsay era a chefe do grande clã e se ela se dava ao trabalho de sair da comodidade do seu trono é porque algo de grave tinha sido feito. E pelos vistos Fosforus era o responsável!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O aparecimento de Fosforus

Aproximo-me devagar, pé ante pé, sem querer assustá-la. A criatura olha em redor de olhos rasgados mas não se apercebe que já estou próxima. Tão próxima que a poderia agarrar. Alheada, matuta no querer ficar ou partir mas não se atreve a decidir. Prefere antes cantar alegremente.
Fico queda e observo. Mais alguém se aproxima... é o Fosforus! Quero expulsá-lo daqui, mandá-lo embora, mesmo que depois não volte. Sai! Afasta-te! Sinto o calor do terraço a subir-me até ao rosto...
O vento sopra com mais força e os músculos contraem-se. Por entre as folhas que me servem de máscara vejo que a criatura agora está pronta a partir. Basta um movimento minímo e eu sei que ela não aguardará mais um segundo. Inevitavelmente irá acontecer.
Respiro fundo muito devagar como que a cravar esta ideia na mente. Hoje não, ainda não. Talvez noutra altura sem ninguém por perto.
Então, não querendo adiar mais o momento, estalo os dedos e as imagens desdobram-se quase sem eu dar conta. Há uma bater de asas que denúncia o medo e a fuga.
O Fosforus ainda está imóvel... anda, vamos embora. Já não há mais nada a fazer aqui.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

Opacidades

Voltando às cores... talvez o transparente não seja assim tão boa ideia. A ausência de cor nunca levou a nada e há até quem vá passando de uma cor para a outra. Portanto, eu tenho direito à minha cor e quero-a já!
Pode ser até uma meio indefinida, entre um amarelo alegre e um verde pálido. Posso até ficar com um insípido castanho ou uma mistura de rosa e laranja chocantes.
Tudo menos o transparente!

Even I Wanna Be Her

Isto dentro de um certo contexto!!!


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Transparências

Às vezes é preciso fazer alguma coisa, nem que seja mudar a cor da alma. Com ela vêm os sons dos sonhos, o cheiro das nossas profundezas, o querer de que nunca soubemos. E a dança começa.
As estrelas sobem e eu vejo-as a repetir aquele batimento. Sempre o mesmo. O meu é que está diferente... e agora é a Lua que me olha com aquela face, a única que tem e a única que alguma vez avistarei. Mas já não quero saber porque não preciso de ver a tua outra face para saber que posso mergulhar sem medo. Alguém me há-de apanhar. Estou em paz no meu desassossego, esse que nunca me deixa, esse que me acompanha nas horas infindáveis do amargo ócio.
Às vezes é preciso mudar a cor da alma, mesmo que esta fique transparente.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dia da Espiga

Pois é, hoje foi feriado na minha "terra", a quinta-feira de Ascenção.
Dia, que pela tradição, se vai ao campo apanhar a Espiga. Pelo menos foi assim que fiz e vivi ao longo de 30 anos...
Mas como entretanto a vida dá muitas voltas, e estando a trabalhar em Lisboa, não tenho "direito" a esse feriado municipal, mas sim ao de dia 13 de Junho.
Ora, acabei por estar na cidade grande, e não sei explicar como foi surreal para mim, encontrar as vendedoras da Espiga à saída do metro!!! E acho que ainda hoje me deixa de boca aberta saber que muita gente compra a dita espiga neste dia...
Eu tenho é saudades do pic-nic deste dia, do sossego passado no campo...Houve alturas em que os meus pais, me levaram e à minha irmã, de bicicleta para apanhar a espiga. Isso sim, belos dias de Espiga em Maio.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Maio de Vermelho Rubro


É neste mês que fico fascinada com as papoilas...
Aquele vermelho rubro que aparece por entre o verde dos campos da minha lezíria...É a paixão da Primavera, a declarar-se por todo o lado...

Nada mais belo que o Amor da Natureza no seu esplendor, e nós mortais termos o prazer de ver tudo isto...De podermos registar estes momentos, de viver nesta cor a alegria de estarmos aqui, neste lugar, neste campo...

E ao mesmo tempo a sensação de fragilidade, de temporalidade...As papoilas são flores frágeis, efémeras, mas que têm a força de marcar a sua presença enquanto perduram no meio das searas...Faz-me pensar que viver assim é um objectivo digno...